10.12.03

ADRIENNE RICH: DIA ÚLTIMO

Com este poema, encerramos o ciclo dedicado a Adrienne Rich que incluiu um pequeno conjunto de poemas traduzidos por Margarida Vale de Gato e nunca antes editados. Esperamos com isto ter contribuído para um maior conhecimento da extraordinária arte de Rich entre o público de língua portuguesa. E, quem sabe, despertar o interesse de algum editor.
Não queríamos terminar sem dirigir um agradecimento muito especial à Margarida, excelente tradutora de Rich e de todos os grandes poetas.




Sexto poema (quinta parte) da breve antologia de Adrienne Rich, em tradução inédita de Margarida Vale de Gato.



DESPERTAR NAS TREVAS

5.

Toda a noite sonhando com um corpo
que o espaço verga de outro modo que o meu
Fazemos amor na rua
o trânsito corre para longe de nós
arrepiando como um lençol
o asfalto agita-se com ternura
não há qualquer apreensão
movemo-nos em conjunto como plantas subaquáticas

Uma e outra vez, começando a despertar
Mergulho de costas para te descobrir
sussurrando ainda, toca-me, continuamos
fluindo através desse lento
oceano da floresta de luzes da cidade
agitando a capilosidade do corpo.

Mas isto é o que se diz em sonhos
despertando
gostaria que houvesse um espaço
real em que nos pudéssemos situar
passando-nos os binóculos
olhando para a terra, a lenha
onde começou a racha.

(in Diving Into the Wreck, 1973)




Tradução inédita de Margarida Vale de Gato.