ADRIENNE RICH: DIA 8
Sexto poema (terceira parte) da breve antologia de Adrienne Rich, em tradução inédita de Margarida Vale de Gato.
DESPERTAR NAS TREVAS
3.
A tragédia do sexo
jaz à nossa volta, um molhe de lenha
para que os machados foram amolados.
Os velhos abrigos e tendas
olham fixamente pelo espaço devastado com alguma resolução
– o tugúrio do ermita, a cabana dos caçadores –
cenas de masturbação
e piadas obscenas.
Um mundo do homem. Mas acabou.
Eles próprios o venderam às máquinas.
Eu percorro essa inconsciente floresta,
uma mulher vestida com velhos desperdícios do exército
que encolheram para lhe servirem, perco-me
por momentos, entontece-me
o sol esgaravatando entre as árvores,
frio no brejo e líquen da mata.
Isto não tem salvação possível. Estou só,
pontapeando os últimos troncos que apodrecem
com o seu estranho cheiro a vida, não morte,
perguntando-me em que raio se teria tudo transformado.
(in Diving Into the Wreck, 1973)
Tradução inédita de Margarida Vale de Gato.
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