Post Scriptum #84
ADRIENNE RICH: DIA 2
Segundo poema da breve antologia de Adrienne Rich, em tradução inédita de Margarida Vale de Gato.
5:30 A. M.
Pássaros e sangue periódico.
Antigas recapitulações.
A raposa, arfando, de olhos em brasa,
enterrada no meu peito.
Somos tão belas,
ela e eu, com os nossos pêlos
fulvos, os nossos rastos sanguíneos,
as nossas fugas milagrosas,
o nosso pânico vergatado acossando-nos
para novos milagres!
Eles aprovisionaram-nos de pílulas
para o fluxo do sangue, pílulas para o pânico.
Há que afogá-las na pia.
Isto é, pois, a verdade:
a agulha embotada tacteando o fluido vertebral,
ácido fraco no fundo do cálice,
mau pressago, mau pressago.
Ninguém diz a verdade sobre a verdade,
que é aquilo que a raposa
vê da sua toca esgaravatada:
de dentes embotados, homicida
em posição de ataque, estúpida
criatura de ideias fixas que
no fim nos há-de esfolar.
(in Leaflets, 1969)
Tradução inédita de Margarida Vale de Gato.
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