Post Scriptum #81
O Quartzo, Feldspato & Mica apresenta:
A FAMÍLIA WITTGENSTEIN.
A primeira blogonovela baseada em factos reais.
Como estão recordados, no primeiro episódio assistimos à revelação-choque de que Ludwig Wittgenstein, filósofo, tinha entrado para a história da música ao compôr um brevíssimo trecho musical de apenas 30 segundos (Post It #27).
No segundo episódio, Firmino, o Belo, lançou-nos directamente para o interior do drama de Paul Wittgenstein, irmão de Ludwig, e conhecido pela alcunha de "o Maneta", para quem Ravel compôs o Concerto para piano com mão esquerda (O Silêncio é de Ouro #17).
Finalmente, damos hoje a conhecer o terceiro e o mais louco episódio desta incrível blogonovela. A perturbante história de Paul, o sobrinho de Ludwig.
O texto deste 3º episódio é do conhecido escritor de novelas, Thomas Bernhard, e os direitos foram-nos gentilmente cedidos pela Cristina Fernandes.
Durante um século, os Wittgenstein produziram armas e máquinas, até finalmente terem produzido o Ludwig e o Paul, o famoso filósofo que marcou uma época e o louco não menos famoso pelo menos em Viena ou justamente aí ainda mais famoso, que no fundo era tão filósofo como o tio Ludwig, como inversamente o filósofo Ludwig era tão louco como o sobrinho Paul, um, Ludwig tinha tornado a sua filosofia na sua celebridade, o outro, Paul, a sua loucura. Um, Ludwig, era talvez mais filósófico, o outro, Paul, talvez mais louco, mas possivelmente só achamos que um, o Wittgenstein filosófico, era filósofo porque lançou no papel a sua filosofia e não a sua loucura e que o outro, o Paul, era um louco, porque reprimiu e não publicou a sua filosofia, tendo apenas exibido a sua loucura. Ambos eram pessoas absolutamente extraordinárias e cérebros também absolutamente extraordinários, mas um publicou o seu cérebro e o outro não. Eu poderia dizer mesmo que um publicou o seu cérebro e o outro praticou o seu cérebro. E onde reside a diferença entre o cérebro publicado e publicando-se continuamente e o cérebro praticado e praticando-se continuamente? Mas naturalmente o Paul, se o tivesse feito, teria publicado escritos completamente diferentes dos de Ludwig, tal como Ludwig teria obviamente praticado uma loucura completamente diferente da de Paul. De qualquer modo, o nome Wittgenstein era garantia de um nível elevado, do mais elevado mesmo. O nível do filósofo Ludwig foi, sem dúvida, atingido pelo louco Paul, um representa absolutamente um ponto alto da filosofia e da história do pensamento, o outro absolutamente um ponto alto da história da loucura, se quisermos qualificar a filosofia enquanto filosofia, o pensamento enquanto pensamento e a loucura da mesma forma, isto é: perversos conceitos históricos.
"O sobrinho de Wittgenstein", de Thomas Bernhard.
Traduzido por José A. Palma Caetano e editado pela Assírio & Alvim.
Não perca os próximos capítulos.
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