19.11.03

Post Scriptum #78

BEN JONSON VS JOYCE KILMER
Combate em torno das árvores e em dois rounds.


1º ROUND
Ben Jonson desafia Joyce Kilmer.



A VIDA PERFEITA


Não é crescendo à toa,
Como as árvores, que alguém se aperfeiçoa;
Não como o roble, em pé trezentos anos,
E ser madeiro enfim, calvo, seco sem ramos.
Esse lírio de um dia,
Em Maio, tem mais valia,
Mesmo que à noite caia já sem cor:
Foi a planta da luz, era o sol a flor.

Em justas proporções a beleza se ajeita,
E só num ritmo breve é que a vida é perfeita.


Ben Jonson
(Inglaterra, 1572-1637)



2º ROUND
Joyce Kilmer responde a Ben Jonson
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ÁRVORES


Parece-me que nunca ninguém há-de
Ver poema tão belo como a árvore.

Árvore que sua boca não desferra.
Do seio doce e liberal da terra.

Árvore, sempre de Deus a ver imagem
E erguendo em reza os braços de folhagem.

Árvore que pode usar, como capelo,
Ninhos de papo-ruivo no cabelo;

Em cujo peito a neve esteve assente;
Que vive com a chuva intimamente.

Os tontos, como eu, fazem poesia;
Uma árvore, só Deus é que a faria.


Joyce Kilmer
(E.U.A., 1886-1918)



Ambos os poemas foram traduzidos por A. Herculano de Carvalho e fazem parte do volume "Oiro de Vário Tempo e Lugar", 2ª Ed., Asa, 2003
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