31.10.03

Post Scriptum #59

Voltamos hoje aos poetas metafísicos ingleses. Depois de Henry Vaughan (Post Scriptum #56), é a vez de George Herbert (1593-1633), em mais uma notável tradução, ainda inédita, de Rui Lage.





VIDA

Colhi um ramo, enquanto o dia passou:
Aqui vou exalar o perfume que sou
E atar a vida ao chão.
Mas o Tempo ali pelas flores pedia
E elas, finas, saíram ao fim-do-dia
E murcharam-me na mão.

Nelas a mão e já perto o coração:
Tive em boa conta, sem hesitação
Do tempo o gentil aviso
Que insinua da morte o gosto no ar
O dia fatal dando à mente a cheirar;
Mas turvando o juízo.

Doces flores: é gasto o tempo! Sois
Boas em vida para deleite, depois,
Só para enfeite nosso.
A direito a vida sem mágoas corto:
Seja doce meu perfume, e não me importo
Se for curto como o vosso.

Tradução de Rui Lage.


LIFE

I made a posie, while the day ran by:
Here will I smell my remnant out, and tie
My life within this band.
But Time did becken to the flowers, and they
By noon most cunningly did steal away,
And wither’d in my hand.

My hand was next to them, and then my heart:
I took, without more thinking, in good part
Times gentle admonition:
Who did so sweetly deaths sad taste convey,
Making my minde to smell my fatal day;
Yet sugring the suspicion.

Farewell deare flowers, sweetly your time ye spent,
Fit, while ye liv’d, for smell or ornament,
And after death for cures.
I follow straight without complaints or grief,
Since if my scent be good, I care not if
It be as short as yours.