31.10.03

Post Scriptum #58

O BARQUEIRO CIGANO

Era uma vez um gramático que queria ir passar algum tempo que tinha a andar de barco no rio. Por isso alugou um barco a um cigano cujo ofício era esse. Durante o passeio, o gramático perguntou ao barqueiro cigano:
- Sabes alguma coisa de literatura? Sabes escrever? Sabes ler?
E o barqueiro respondeu:
- Não, estou sempre a trabalhar, sempre com uma mão à frente e outra atrás, a tentar alimentar a minha família, nunca tive tempo para aprender a ler. Para mim é só uma perda de tempo. Sei do meu ofício, sei tudo de barcos e é isso que tenho que saber.
E o gramático disse:
- Que pena... Gastaste metade da tua vida nos barcos e nada sabes das coisas mais requintadas da vida.
E assim continuaram a argumentar para trás e para diante sobre a necessidade de saber ler e de conhecer a literatura e as coisas mais requintadas da vida. De súbito, apareceu um grande remoinho e as coisas ficaram feias. O barqueiro perguntou ao gramático:
- Olha lá, sabes nadar?
- Não.
Oh, que pena... Gastaste metade da tua vida a estudar gramática e literatura e a arte de escrever e nunca aprendeste a nadar? Pois se não aprendes a nadar agora será o fim da tua vida.

Contos Populares Ciganos, recolha de Diane Tong, Teorema, 1998. A tradução é de Telma Costa.