Post Scriptum #57
"Esperando os Bárbaros." Este é indubitavelmente um dos melhores poemas do século XX. Foi escrito por Konstantínos Kaváfis (ou Constantin Cavafy, segundo Jorge de Sena), talvez o maior escritor grego contemporâneo, que viveu entre 1863 e 1933. Esta é a versão do nosso estimado tradutor Manuel Resende.
ESPERANDO OS BÁRBAROS
- Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos?
É que os bárbaros hoje vão chegar!
- Mas porque reina no Senado tanta apatia?
Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
Que leis hão-de fazer os senadores?
Os bárbaros que vêm, que as façam eles.
- Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,
e se sentou na magna porta da cidade à espera,
oficial, no trono, co'a coroa na cabeça?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
O nosso imperador espera receber
o chefe. E certamente preparou
um pergaminho para lhe dar, onde
inscreveu vários títulos e nomes.
- Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores
trouxeram hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,
e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por que razão empunham hoje bastões preciosos
com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?
É que os bárbaros hoje vão chegar.
E tais coisas os deixam deslumbrados.
- Porque é que os grandes oradores como é seu costume
não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?
É que os bárbaros hoje vão chegar
e aborrecem arengas, belas frases.
- Porque de súbito se instala tal inquietude
tal comoção (mas como os rostos ficaram tão graves)
e num repente se esvaziam as ruas, as praças,
e toda a gente volta a casa pensativa?
Caiu a noite, os bárbaros não vêm.
E chegaram pessoas da fronteira
e disseram que bárbaros não há.
Agora que será de nós sem esses bárbaros?
Essa gente talvez fosse uma solução.
Tradução de Manuel Resende.
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