Post Scriptum #37
UM SONETO DE CECCO ANGIOLIERI
Se fora fogo, eu abrasava o mundo,
Se fora vento eu o arrasaria,
Se eu fora a água então o afogaria,
Se fora Deus, mandava-o prò profundo.
Se fora papa, em delírio jucundo
A todos os cristãos eu prenderia,
Se fora imperador, o que faria?
Golpeava a todos o pescoço, fundo.
Se fosse a morte, ao meu pai procurava,
Se fosse a vida, o não queria mais
E coisa igual com a minha mãe se dava.
Se fosse Cecco, como o sou de mais,
As mais lindas mulheres pra mim guardava
E deixaria as feias para os mais.
Cecco Angiolieri da Siena (1258-1300)
(Tradução de A. Herculano de Carvalho, "Oiro de Vário Tempo e Lugar", O Oiro do Dia, 1983).
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