13.10.03

Post Scriptum #37

UM SONETO DE CECCO ANGIOLIERI

Se fora fogo, eu abrasava o mundo,
Se fora vento eu o arrasaria,
Se eu fora a água então o afogaria,
Se fora Deus, mandava-o prò profundo.

Se fora papa, em delírio jucundo
A todos os cristãos eu prenderia,
Se fora imperador, o que faria?
Golpeava a todos o pescoço, fundo.

Se fosse a morte, ao meu pai procurava,
Se fosse a vida, o não queria mais
E coisa igual com a minha mãe se dava.

Se fosse Cecco, como o sou de mais,
As mais lindas mulheres pra mim guardava
E deixaria as feias para os mais.

Cecco Angiolieri da Siena (1258-1300)

(Tradução de A. Herculano de Carvalho, "Oiro de Vário Tempo e Lugar", O Oiro do Dia, 1983).