1.10.03

Post Scriptum #17

É verdade que existem várias traduções para português de "A Paixão de Ravensbrück", de János Pilinsky (ou Pilinsky János). Existem pelo menos três: uma de Vasco Graça Moura (1982), outra de Egito Gonçalves (1991) e outra ainda de Ernesto Rodrigues (2001). Mas também é verdade que nenhuma delas é totalmente convincente. Pela parte que me toca, decidi criar a minha própria versão, aproveitando os versos e as soluções mais interessantes de cada autor. Uma espécie de frankenstein literário, feito a partir dos melhores pedaços daquelas versões.
O resultado é este.

A PAIXÃO DE RAVENSBRÜCK

Sai das fileiras.
Detém-se num quadrado de silêncio.
A farda prisional, a cabeça do condenado
cintilam como no cinema.

Ei-lo terrivelmente só.
Distinguem-se-lhe os poros da pele:
tudo nele é imenso
e tudo é tão pequeno.

E pronto, mais nada. O resto –
aconteceu muito simplesmente:
esqueceu-se de gritar
antes de cair no pó.

Versão realizada a partir das traduções de Vasco Graça Moura, Egito Gonçalves e Ernesto Rodrigues.