28.9.03

Post Scriptum #14

William Empson nunca reconheceu a importância da sua obra e opunha-se à sua chefia “político-sacerdotal”. Louis Mac Neice, Stephen Spender e Cecil Day Lewis admiravam-no com todas as suas forças. Chamava-se Wystan Hugh Auden. Dividiu opiniões, influenciou muitos, escandalizou outros. Morreu na pequena aldeia de Kischtetten, perto de Viena, a 28 de Setembro 1973, completam-se hoje exactamente 30 anos. Foi um dos mais extraordinários e influentes escritores de poemas do século XX.

Nasceu em 21 de Fevereiro de 1907, em York, na Inglaterra. Publicou o seu primeiro livro “Poems” em 1930, na editora Faber & Faber, por indicação de T. S. Eliot. Esteve em Espanha, em 1937, ao lado dos republicanos, e em 1938 estabelece-se nos Estados Unidos, tendo posteriormente obtido a cidadania americana. Nos Estados Unidos publicou nove livros de poemas, entre 1940 e 1974. Perto do fim declarou que regressava à Europa, “para não morrer solitário num apartamento, como sucede aos velhos norte-americanos”.
O poema de Auden que escolhemos é uma homenagem sua a outro grande poeta: Rimbaud.

RIMBAUD

As noites, as pontes de comboio, a má estrela,
Os seus temíveis companheiros não as conheciam;
Mas nessa criança a mentira do retórico
Queimava como uma fornalha: o frio fizera um poeta.

As bebidas que o seu amigo tíbio e lírico
Lhe comprava, perturbavam-lhe os cinco sentidos,
Terminando com todo o nonsense corriqueiro;
Até se alhear dos pecados e da lira.

Os versos eram uma doença específica do ouvido:
A integridade era de menos: parecia
O inferno da infância: devia tentar de novo.

Agora, galopando pela África, ele sonhava
Um novo eu, um filho, um engenheiro,
Cuja verdade mentirosos aceitassem.


A tradução é de José Alberto Oliveira e encontra-se no livro "O Massacre dos Inocentes", editado pela Assírio & Alvim, em 1994.