7.10.03

Post Scriptum #27



LAMENTAÇÃO DAS ESCADAS DE PEDRARIA

Os degraus de pedraria estão já brancos com o orvalho,
É tão tarde que o orvalho encharca as minhas meias de gaze,
E eu desço a cortina de cristal
E contemplo a lua no Outono límpido.

Li Tai Po (C. 701-C. 762). Versão de Ezra Pound incluída no volume Cathay, Relógio D’Água, 1995. Tradução de Gualter Cunha.


O mesmo poema mereceu esta tradução de Gil de Carvalho.


QUEIXA DAS ESCADAS DE JADE

Nas escadas de Jade cresce
Ainda o branco orvalho,
O frio que toda a noite
Encharcou umas meias de seda.

Ela desce
A persiana de cristal
E contempla a Lua
- envidraçada – do Outono.

Uma Antologia de Poesia Chinesa, Gil de Carvalho, Assírio & Alvim, 1989.


Ainda a propósito deste famoso poema de Li Tai Po (Li Bai), Ezra Pound teceu o seguinte comentário:
Escadas de pedraria, por isso um palácio. Lamentação, por isso há alguma razão de queixa. Meias de gaze, por isso uma senhora da corte, não uma criada que se queixa. Outono límpido, por isso o tempo não é desculpa para ele. Notar também que ela chegou cedo, pois o orvalho não só embranqueceu as escadas, mas também lhe encharcou as meias. O poema é especialmente apreciado por ela não proferir nenhuma censura directa.