5.10.03

Post Scriptum #25

SINOS DEMASIADO PERTO

Manhã após manhã o seu toque devasta
o meu sono, como se fosse vontade de deus castigar aqueles
que à noite não conseguem adormecer
no mundo dele

Ao domingo apressam-se os sinos grandes a ajudar os pequenos

Tocam os crentes para fora das camas,
enfiam-nos a toque nos casacos,
tocam e tocam

Numa segunda-feira na neblina hei-de colher os sinos
como frutos demasiado maduros
e dá-los a comer ao peixe-sino

Não temo pela salvação da minha alma

Secretamente pedirá por mim
o padre. Ele gosta de dormir até tarde.

Reiner Kunze, Poemas, Paisagem Editora, 1984. A tradução é de Luz Videira.