3.10.03

Post Scriptum #21

No Brasil, durante muitos anos, um dos poemas mais apreciados de Bertolt Brecht não era de Brecht. E durante muitos anos um dos poemas mais lidos de Vladimir Maiakóvski não era de Maiakóvski. E esse poema, atribuído quer a Brecht quer ao autor de "A Nuvem de Calças", e intitulado "No Caminho, com Maiakóvski", é apenas um breve excerto de um texto bastante mais longo e perfeitamente banal. O excerto, porém, é de uma beleza absolutamente inegável:

No caminho, com Maiakóvski

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.



O seu verdadeiro autor é o brasileiro Eduardo Alves da Costa que o escreveu em 1936. E o poema completo, tal como surge em "Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século", organizado em 2001, por José Nêumanne Pinto, pode ser lido aqui: